Aproximei os lábios da caneca e apercebi-me que no meio dos meus devaneios, o leite tinha arrefecido. Então, voltei à cozinha e aqueci-o de novo, desta vez o dobro do tempo, para ter a certeza que ficaria realmente a ferver. Quando o microondas parou, voltei-me e dei de caras com a minha mãe.
A minha mãe. Que orgulho que eu tinha nela e em puder chamá-la de 'mãe'. Era graças a ela que eu me tinha tornado naquilo que era. A calma e a serenidade patentes tanto nas suas expressões faciais como no seu tom de voz quando, depois de escutar pacientemente os meus problemas e confidências, me aconselhava e repreendia sempre que era preciso. Nunca me bateu uma única vez, nem tão pouco me levantou a voz. Nem mesmo quando eu lhe contei que tinha ficado de castigo no infantário quando retribui um estalo a uma miúda irritante; quando lhe disse que perdi a minha mochila e o meu casaco na escola primária; ou mesmo quando lhe disse que tinha vindo para a rua pela primeira vez na escola preparatória devido a uma resposta um tanto ou quanto inadequada ao contexto da aula para com a professora ou professor, sinceramente nem me lembro muito bem. Não quero com isto dizer que fosse uma miúda violenta, irresponsável ou mal-educada, nada disso. Os meus pais educaram-me bem e não foi nesse sentido, sem dúvida alguma. Apenas me tinham encontrado em dias maus, nada mais. Todos perdem as estribeiras, de vez em quando, e eu não sou excepção.
Lá estava ela. Com os cabelos compridos loiros e um tanto ou quanto ondulados a recaírem sobre os seus ombros, estendendo-se até quase à cintura, vestida com o conjunto de roupão, pijama e os chinelos azuis-claros que eu lhe tinha oferecido no Natal passado, a fitar-me com aqueles compreensivos olhos esverdeados, os quais tinham sido herdados por mim. Olhava-me com um olhar um tanto ou quanto sonolento, mas notava-se um laivo de preocupação.
- Que se passa, Samantha? – perguntou ela gentilmente. Que mania tinha ela de me tratar pelo meu nome completo! – Mais uma daquelas horríveis noites que passas em claro? Ou é algo mais que te está a tirar o sono?
- Desculpa, mãe, não queria acordar-te – disse-lhe eu.
- Não tem problema. Acordaria de qualquer maneira. Como vês, está a chover e sabes que acordo sempre nas noites chuvosas, para vir beber água. Acho que a chuva me abre a sede – comentou ela, soltando um sorriso.
Oh, claro. Tinha-me esquecido, também a minha mãe acordava com facilidade. Afinal de contas, começava a achar que o meu irmão era um sortudo por não ter herdado este estranho gene da família. E aquele sorriso que demonstrava que não se tinha esquecido que era bem capaz de haver um motivo qualquer por detrás das minhas insónias.
- Pois, deve ser isso – retribui o sorriso.
- Então? Queres contar-me o que se passa? – perguntou-me ela novamente, puxando uma cadeira e sentando-se, como que à espera que eu fizesse o mesmo. E assim fiz.
- Não é nada de mais. Simplesmente acordei sobressaltada, deve ter sido um sonho... Já dei voltas e voltas na cama, mas não consigo adormecer. Por isso, decidi vir aquecer um pouco de leite. Sempre que fazias isto quando eu era pequena resultava… - esbocei um sorriso.
Falar com a minha mãe era algo tão fácil, tão natural. Ela esperava sempre que eu acabasse de falar, e só depois falava ela. Raramente me interrompia.
- Pois, talvez. Mas quando somos pequenas, tudo é fácil e simples. Não há complicações, nem confusões, nem nada que nos baralhe as ideias. Quando começamos a crescer, os problemas, os dilemas, surge tudo e ao mesmo tempo.
- Pois, se calhar é isso que me está a perturbar o sono… Sabes como eu me lembro sempre de tudo o que sonho, certo?
- Sim, sempre foi assim. Sempre tiveste uma excelente capacidade de memorização.
- Aconteceu uma coisa esquisita, tenho quase a certeza de que estava a sonhar e, quando acordei, acordei sobressaltada. E isso faz com que não consiga dormir.
- Então faz uma coisa: vai deitar-te e tenta descansar… Amanhã falamos sobre isso. Não te esqueças de que amanhã, ou hoje sendo assim, tens de acordar cedo… - advertiu ela.
- Está bem, vou fazer isso.
Saímos as duas da cozinha e dirigimo-nos cada uma para o seu quarto.
- Boa noite, Samantha. Tenta dormir e, se conseguires, dorme bem.
- Obrigada, mãe. Boa noite.
Entrei no meu quarto e adormeci mal caí na cama…
To be continued...
Primeiro a comentar heheh
ResponderEliminarFã nº1:)
Este capítulo (portugues) está muito bom mesmo!
Consegues transmitir realidade e conseguis-te por-me dentro da história :P
Espero que amanha haja mais xD
Parabens :)
Beijo grande
Adoro-te ;)
Andreia, ta bue gira a história *.*
ResponderEliminarNo 1º capitulo parecia que estavas a descrever o teu quarto xD mas com algumas diferenças xD Mas ta bue giro ^^
ADORO A MUSICA QUE TENS A TOCAR!!!!! *.*
andreia :o continua por favor.
ResponderEliminaradorei até aqui, completamente *-*
tu és a soulmate escritora :)
amo-te <3