Caminhámos lentamente em direcção à sala de Alemão, uma sala ampla e com muita luz natural, pois sabíamos que o professor de Alemão, o Professor Riley, ficava sempre mais um bocadinho na sala de professores, na conversa.
Quando chegámos à sala, constatámos que o Professor Riley ainda não tinha chegado e, entretanto fomos à casa-de-banho. Uma daquelas idas à casa-de-banho em conjunto, que as raparigas tanto gostam de fazer.
- Então, Sam? Como achas que vai correr a aula? Uma seca como habitualmente? – perguntou-me Steph enquanto lavávamos as mãos.
- Pois sim, uma seca para ti, que já sabes a matéria que estamos a dar de cor e salteado. Ainda não percebi porque é que te inscreveste neste nível, se estás num muito mais avançado…
- Sabes bem por que me inscrevi neste nível. Alemão não é propriamente uma disciplina que precise muito, simplesmente a escolhi para que pudéssemos ficar nas mesmas aulas, caso contrário, nem estaria aqui agora. – e, dito isto, piscou-me o olho em sinal de divertimento. Esbocei um sorriso como resposta.
Em seguida, dirigimo-nos à sala de Alemão, onde o Professor Riley já estava a escrever o sumário, indicando cada uma das matérias que iríamos estudar hoje. Sinceramente, não sabia mesmo porque é que a Steph andava naquela aula. Ela própria tirava a nota máxima em todos os trabalhos e testes que fazíamos, e, por vezes, chegava a detectar erros em fichas e testes feitos pelo próprio Professor (embora não os dissesse em voz alta, dizia-me sempre ao ouvido, baixinho, de modo a que ninguém ouvisse). Bem, talvez o facto de ela ir passar duas semanas de férias à Alemanha todos os anos ajude, mas era perfeitamente desnecessária a frequência dela àquelas aulas.
A nossa turma de Alemão era pequena, apenas faziam parte dela oito alunos. Mas, nesse dia, após ditar o sumário, o Professor Riley começou a contar-nos, coisa que raramente fazia, pois, sendo uma disciplina facultativa (considerada difícil), e cujos alunos eram de um número tão reduzido, ele não tinha essa necessidade. Então, a Mary, uma aluna sempre muito caladinha, que se sentava sempre nas filas da frente e que gostava particularmente de ‘agradar’ ao Professor Riley disse:
- Não é necessário contar-nos, Professor – e fez uma voz tão dócil (até dócil demais!) como eu nunca a tinha ouvido utilizar para qualquer colega. – Estamos cá todos, eu própria o verifiquei.
- Obrigado pela informação, Mary, mas recebi a indicação de que hoje viriam dois alunos novos para a nossa turma, dois alunos que são novos na escola.
No momento em que acabou a frase, bateram à porta.
- Entre! – exclamou o Professor.
E então, entrou uma funcionária seguida por dois alunos: uma rapariga e um rapaz. Ele era alto, com o cabelo castanho-chocolate e pele morena. Ela era igualmente alta, com cabelo castanho-avelã e pele morena. Se eram namorados, eram feitos um para o outro. Completavam-se de uma maneira como apenas duas almas gémeas se podiam completar.
- Ah, cá estão eles! Estava mesmo agora a comentar a vossa ausência. Obrigado, pode ir – disse o Professor Riley, dirigindo-se à funcionária. – Meninos, quero apresentar-vos os irmãos Kate e Jack Smith. Eles são novos na escola e decidiram inscrever-se na nossa aula. Podem sentar-se ali atrás, na terceira mesa – indicou o Professor Riley.
A mesa indicada era mesmo atrás da nossa. Mal eles se sentaram, eu e a Steph virámo-nos automaticamente para trás, no sentido de começarmos a tagarelar, para que os irmãos se sentissem integrados na turma.
- Olá! Eu sou a Steph e ela a Samantha – apresentou-nos a Steph, que era muito mais extrovertida que eu.
- Olá – respondeu o rapaz, secamente. A rapariga apenas nos respondeu com um aceno de cabeça. Que estranho, não pareciam a ser tímidos, mas sim bastante calados, como se não quisessem que se intrometessem na vida deles.
- Então, são novos cá na escola? Querem que nós vos mostremos as instalações no intervalo? – ofereceu-se Steph, com o objectivo de estabelecer uma conversa de ocasião.
- Não irá ser necessário. Nós cá nos arranjaremos – desta vez foi a vez da Kate de responder. O seu tom não era nada agradecido, pelo contrário, parecia até um tanto ou quanto hostil. Deu a entender que não precisavam nem tão pouco queriam a nossa ajuda.
- Silêncio aí atrás, Stephanie e Samantha!
Foi então que nos virámos para a frente, sem dirigir uma única palavra aos nossos novos colegas. Que estranhos que eles eram. As suas atitudes faziam-nos parecer pessoas arrogantes, que não aceitavam a ajuda de ninguém, mesmo que precisassem.
- Realmente, foi de muito mau tom, a resposta da miúda -sussurrou-me Steph ao ouvido. - Eu não me queria intrometer na vida deles, apenas estava a tentar fazer com que eles não se sentissem de parte e começassem a falar com alguém, mas pelos vistos são eles próprios que não querem isso.
A Steph levava muito a peito aquele tipo de atitudes e, como tal, tentei tranquilizá-la.
- Deixa lá, se calhar são apenas tímidos – mas, nem eu no mais íntimo do meu ser achava que aquela atitude era reflexo só de timidez.
To be continued...